quinta-feira, 9 de maio de 2013

UTILIZAÇÃO DE MATERIAL CONCRETO NO ENSINO DE MATEMÁTICA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL


UTILIZAÇÃO DE MATERIAL CONCRETO NO ENSINO DE MATEMÁTICA NOS ANOS INICIAIS DO
ENSINO FUNDAMENTAL

Daniel da Silva Silveira (danielsilvarg@gmail.com)
Vanessa Silva da Luz (vanessa.furg@hotmail.com)
Tanise Paula Novello (tanisenovello@furg.br)


Linha de trabalho: Formação docente
Grupos de trabalho: Formação continuada, extensão, grupos de estudo ou coletivos de professores.

1- Contexto do Relato

            O presente trabalho relata sobre o projeto “A utilização de material concreto no ensino de Matemática nos anos inicias do Ensino Fundamental” que está sendo desenvolvido na Escola Municipal João de Deus Collares do município de São José do Norte/RS. O projeto foi proposto a partir do interesse da equipe gestora da escola, juntamente com o corpo docente, que procuraram professores da Universidade para formar uma parceria entre a Instituição de Ensino Superior e a escola.
            A necessidade surgiu, pelo baixo rendimento obtido pela escola na avaliação do Índice de Desenvolvimentos da Educação Básica (IDEB). A partir dessa demanda estabeleceu-se uma pareceria Universidade e escola na busca por alternativas e possíveis soluções para minimizar tais problemas. Para tanto, a escola através do incentivo financeiro do governo adquiriu vários materiais concretos para o ensino de Matemática com o intuito de aprimorar a prática docente.
            Os educadores tendo notado que seus alunos estão aprendendo mecanicamente as operações matemáticas fundamentais, tem procurado outras estratégias pedagógicas para ensinar esses conceitos, especialmente pela utilização de material concreto. Precisamos mudar esta realidade em virtude da necessidade da escola acompanhar os processos de transformação da sociedade em meio à essas demandas. Foi com esse objetivo que a equipe do projeto elaborou as atividades e selecionou os textos para serem discutidos durante os encontros com os professores desta escola.
            Sabe-se que a problemática da matemática nas séries iniciais é decorrente, muitas vezes da falta de conhecimento específico por parte dos docentes sobre a gênese da construção do sistema numérico e das quatro operações utilizando o concreto.
            As crianças são imersas no mundo dos números, muitas vezes sem compreendê-los. É trivial vermos na escola a repetição de seqüências numéricas sem o estabelecimento de relações entre símbolos e quantidades. O fato de a criança saber processar o algoritmo não garante que tenha aprendido. Esse fato, evidencia a importância de viabilizar espaços de formação continuada para os docentes discutirem estratégias pedagógicas para trabalhar a alfabetização matemática nas séries iniciais.
O mundo de informações ao qual o sujeito está exposto, não necessariamente pode não significar situação de construção de conhecimento. Nesse contexto, o papel da educação é fornecer condições para criação de ambientes significativos que favoreçam, efetivamente, o desenvolvimento de novas habilidades cognitivas e construir saberes que contribuam para a troca de atitudes e comportamentos, individuais e coletivos, permitindo a recriação de novas relações resultantes das interações entre ambiente e os elementos sociais, culturais e históricos (ORELLANA, 2002).
            A Matemática ensinada propõe-se desenvolver o raciocínio lógico do estudante, porém as atividades propostas muitas vezes contemplam apenas a memorização de regras e a sistematização de algoritmos. Cabe salientar, que a abstração da Matemática é importante, contudo esse deve ser um processo decorrente da construção de noções, a partir de situações significativas que possibilitem compreendê-los.
Diversos estudos na área de educação matemática, tem evidenciado a importância de trabalhar os conceitos matemáticos a partir do contexto dos estudantes, pois estreita o processo de relação entre o concreto e o abstrato. Micotti (1999, p.162) ressalta sobre a importância do ensino da matemática estar vinculado a situações da vida diária:
“o caráter abstrato dos estudos matemáticos surpreendem os principiantes nos primeiros contatos com o mundo de idéias e representações, desprovidas das particularidades das coisas materiais. Apesar de a matemática ser utilizada e estar presente da vida diária, exceto para quem já compartilha desse saber, as idéias e os procedimentos matemáticos parecem muito diferentes dos utilizados na experiência prática ou na vida diária.”

A Matemática tem sido introduzida sem considerar o desenvolvimento espontâneo ou natural das operações lógico-matemáticas no pensamento da criança e do adolescente. Para Piaget (1997) é da ação que a inteligência, o pensamento e a lógica derivam, pois a operação nasce da ação. Ao preconizar a inteligência Piaget estabeleceu uma seqüência de etapas em que o pensamento concreto antecede a de pensamento abstrato necessariamente. Decorre daí, que os primeiros níveis apoiados em material concreto, servem de alavancas para o desenvolvimento dos níveis superiores de pensamento necessários não só para o avanço das idéias matemáticas, mas também para a compreensão dos processos de aprendizagem de todas as disciplinas do currículo básico.
Existem diversas formas de ensinar matemática, o que é determinante nesse contexto é a prática pedagógica do professor. É papel dele trabalhar com diferentes contextos para que os estudantes compreendam tanto os conceitos abstratos quanto as manipulações simbólicas desses. É a partir desse processo de manipulação que acontece a construção do conhecimento que é singular a cada sujeito.
Assim, decidiu-se elaborar oficinas numa perspectiva teórico-prática contemplando esses materiais de forma a potencializar o pensar sobre essas questões voltadas para o ensino de matemática. De forma geral, as oficinas foram organizadas da seguinte forma: resgate histórico do material concreto, proposição de atividades de experenciação, análise dos limites e potencialidades da atividade e abstração do conceito matemático a partir dessas atividades.

2- Descrição das Atividades

            O grupo é composto por seis acadêmicos, dois professores da instituição e duas professoras da escola, o coletivo reúne-se semanalmente para planejar as atividades e discutir as ações realizadas. O curso foi planejado para 31 professores das series iniciais do ensino fundamental em oito encontros semanais com duração de duas horas.
A seguir será explicitado o planejamento das oficinas: no primeiro encontro discutiremos o papel do professor no ensinar e para quem ensinar, apresentando um vídeo com entrevistas realizadas com professores das séries iniciais, apreciando a prática pedagógica desses para a partir do vídeo discutirmos no grande grupo o entendimento das educadoras sobre estratégias metodológicas possíveis para o ensino de matemática com enfoque na utilização de matérias concretos. Nos demais encontros, seguirá a mesma dinâmica realizando um breve resgate histórico dos materiais pedagógicos. As atividades contemplarão a manipulação de blocos lógicos, ábaco, material dourado, discos de fração e cuisinaire.

3- Análise e Discussão do Relato

            Em geral, a matemática tem sido abordada de forma abstrata, com poucas demonstrações concretas dos conceitos com a realidade, fato esse que dificulta o entendimento dos discentes e como conseqüência muitos passam a não gostar dessa ciência. Estudos mostram que o material concreto tem sido utilizado como intermediário entre a prática da sala de aula e a aprendizagem, possibilitando que os estudantes façam experimentos e estabeleçam relações entre as situações experienciadas com o uso dos materiais e a abstração dos conceitos estudados. O desafio é durante as oficinas apontar caminhos para superar a dificuldade de desenvolver atividades que provoquem o envolvimento, a participação ativa dos alunos e a interação vinculando os conteúdos matemáticos a situações reais e próximas das vivências deles.

“É papel da escola criar espaços e situações que potencializam a interação, o que implica interagir nos contextos social, afetivo e cultural que influenciam os mecanismos de assimilação dos objetos do conhecimento, o desenvolvimento da aprendizagem e a maneira como as competências humanas evoluem”(MORAES, 2004).

Através da iniciativa da escola em buscar estreitar laços com a comunidade universitária, objetivando promover espaço de discussão e problematização do ensino de conceitos matemáticos, o grupo está podendo experienciar os materiais concretos vislumbrando como esses auxiliam na aprendizagem de forma mais significativa.

4- Considerações Finais

Os encontros estão sendo gratificantes, tanto para a equipe como para os educadores da escola. Para os docentes a aproximação da formação continuada com a inicial parece-nos rica e significativa, oportunizando a reflexão e estabelecendo relações dos conteúdos matemáticos com a vida cotidiana.
A prática pedagógica sem reflexão teórica é mera situação de treinamento. Por isso, precisa existir um currículo articulado, diversificado, em que o embasamento teórico é fundamental, para não ficarmos apenas na prática pela prática.
Como primeiros resultados esperam-se uma qualificação dos docentes para o trabalho com os conteúdos matemáticos. Assim, deverá elevar o nível de conhecimento dos alunos, permitindo-lhes melhor apropriação dos conceitos, aplicação em situações de seu cotidiano e conseqüente aumento dos índices do IDEB, além da formação acadêmica complementar da equipe do projeto.


5- Referências

BICUDO, Maria Aparecida Viggiani, BORBA, Marcelo de Carvalho. Educação Matemática: pesquisa em movimento. São Paulo, Cortez, 2004.
CARRETERO, Mario. Construtivismo e Educação. Porto Alegre, Artes Médicas, 1997.
MICOTTI, M. C. O. Micotti, M.C. de O. (Org.) . Alfabetização: aspectos teóricos e práticos. 1. ed. Rio Claro - SP: Instituto de Biociências de Rio Claro - UNESP, 1999.
MORAES, M. C. Pensamento eco-sistêmico: educação, aprendizagem e cidadania no século XXI. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.
ORELLANA, I. La estrategia pedagógica de la comunidad de aprendizaje: definiendo sus fundamentos, sus practicas y su pertinencia en educación ambiental. In: SAUVÉ, L., ORELLANA, I. e SATO, M. Textos escogidos en Educación ambiental, de una América a la otra, Tome 2, ERE-UQAM, Université du Québec, Montreal, 2002.
PIAGET, Jean. A Psicologia da Criança. Porto, Asa, 1997.
SIMONS, Ursula Marianne. Blocos Lógicos: 150 exercícios para flexibilizar o raciocínio. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.






            

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